Bárbara Gusmão

Introdução: as bases para a construção de “Os Lusíadas”


O que é uma epopeia? É uma narrativa com assunto histórico, em que se registram poeticamente as tradições e os ideais de um grupo étnico sob a forma de aventuras de um ou de mais heróis.
Uma vigorosa confiança histórica - Portugal dos tempos das descobertas possuía essas condições: um grande tema – as viagens – e muitos heróis. Além disso, o país voltava-se com decisão para o grande empreendimento das conquistas, vencendo não apenas os oceanos, mas também os estreitos limites geográficos e culturais da Idade Média européia.



Assim, Camões centralizou-se em torno da viagem de Vasco da Gama à Índia. Mas, mais do que narrar a história desse herói, ele procurou cantar a história dos heróis de seu país.
Interessante notar que boa parte das informações utilizadas por Camões veio de sua própria experiência de navegador. Também lhe foram fundamentais textos literários e históricos.



Fontes históricas:
• as crônicas de Fernão Lopes, Duarte Galvão, Rui de Pina, com informações sobre a história de Portugal;
• as crônicas de João de Barros, que lhe forneceram dados históricos sobre as navegações portuguesas;
• e o próprio diário de bordo da viagem de Vasco da Gama.



Modelos literários:
• “A Eneida”, de Virgílio;
• “A Ilíada” e “A Odisséia”;
• “Trovas” de Garcia Rezende;
• “Os Doze da Inglaterra”, de Ferreira de Vasconcelos;



A FORMA DO POEMA

São 10 partes (intituladas de cantos). Os cantos são divididos em estrofes regulares (chamadas estâncias). São 1102 estâncias em oitava rima, distribuídas pelos 10 cantos. Todos os versos são decassílabos e quase todos são chamados de heróicos (as sílabas mais fortes são a 6ª e a 7ª sílaba).
Todas as estrofes têm o mesmo esquema de rimas: os seis primeiros versos são de rimas cruzadas (ababab) e os dois últimos de rimas emparelhadas (cc).
De acordo ainda com os modelos da tradição clássica, Camões organizou o poema da seguinte maneira:



• Proposição do assunto (estâncias 1- 3);
• Invocação às musas (Canto I, estâncias 4 – 5);
• Dedicatória a D. Sebastião (Canto I, estâncias 6 – 18);
• Narração da história as viagem de Vasco da Gama (Canto I, estância 19, até o fim do poema).
à A ação do poema aparece dividida em duas linhas narrativas:
• A ação histórica – a viagem de Vasco da Gama e fatos importantes da história de Portugal;
• A ação mitológica – a luta de Vênus (protetora dos     portugueses) e Baco (adversário desses navegantes)



ANÁLISE DO CANTO I

Proposição — (estâncias 1-3) O poeta apresenta o assunto do poema: vai cantar as façanhas guerreiras dos homens que se fizeram heróis devassando o mar, dos reis que dilataram a Fé e o Império e de todos aqueles que se tornaram imortais pelas suas obras. Afirma que vai cantar a glória do povo português. Acrescenta ainda que os feitos portugueses são mais grandiosos do que aqueles cantados nas epopeias clássicas, logo, merecem ser exaltados.
Invocação às Musas – (estâncias 4 – 5) O poeta pede inspiração ás Tágides, entidades míticas nacionais, jogando a varidade das ninfas e também com o seu espírito de gratidão ao recordar-lhes que sempre as celebram na sua poesia. É significativa a valorização do estilo épico, por comparação com o estilo lírico, pois, é mais adequado á grandeza dos feitos dos heróis que vai contar.
Dedicatória - Camões dedica a sua obra ao Rei D. Sebastião a quem louva por aquilo que ele representa para a independência de Portugal e para a dilatação do mundo cristão; louva-o ainda pela sua ilustre e cristianíssima ascendência e ainda pelo grande império de que é Rei (estrofes 6 , 7 e 8).



Segue-se uma segunda parte que constitui o apelo dirigido ao Rei: referindo-se com modéstia à sua obra, pede ao rei que a leia; na breve exposição que faz do assunto, o poeta evidencia que a sua obra não versava heróis e fatos lendários ou fantasiosos, mas sim matéria história real (estrofes 9 a 14).
Termina o seu discurso incitando o Rei a dar continuidade aos feitos gloriosos dos portugueses, combatendo os mouros e invocando depois o pedido de que leia os seus versos (estrofes 15 a 18).
• Narração – O início da narração histórica ocorre com a aramada de Vasco da Gama a caminho de Moçambique. Início “in media res”, com a história já iniciada. Ocorre o Concílio dos Deuses para julgarem o destino dos portugueses: Baco é hostil, Vênus e Marte os defendem. Marte propõe, e é aceito por Júpiter, que Mercúrio seja enviado para guiar os portugueses. Baco incita o rei da Ilha de Moçambique contra os navegantes. O Mouro verifica que os Portugueses eram Cristãos e resolve destruí-los. Quando Vasco da Gama desembarca na ilha‚ é atacado traiçoeiramente, mas com a ajuda dos marinheiros portugueses consegue vencer os mouros. Vasco da Gama prossegue a viagem até Mombaça (Quênia atualmente).



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABDALA JÚNIOR, Benjamim. Camões: épica e lírica. São Paulo: Editora Scipione, 1996.
CAMÕES, Luis de. Os Lusíadas. São Paulo: Nova Cultural, 2002.
NICOLA, José de. Literatura Portuguesa: da Idade Média a Fernando Pessoa. São Paulo: Editora Scipione, 1992.
www. Vestweb.blogspot.com. (acesso em 20 de novembro de 2012)
Bárbara Gusmão
Originário na Idade Média, tinha de início caráter religioso; depois tornou-se popular, para distração do povo. Foi Gil Vicente (1465-c. 1537) que introduziu esse tipo de teatro em Portugal. Esse Auto, classificado pelo próprio autor como um "auto de moralidade", tem como cenário um porto imaginário, onde estão ancoradas duas barcas: uma como destino o paraíso, tem como comandante um anjo; a outra, com destino ao inferno, tem como comandante o diabo, que traz consigo um companheiro. Com relação a tempo, pode-se dizer que é psicológico, uma vez que todos os personagens estão mortos, perdendo-se assim a noção do tempo.
Todas as almas, assim que se desprendem dos corpos, são obrigadas a passar por esse lugar para serem julgadas. Dependendo dos atos cometidos em vida, elas são condenadas à Barca da Glorificação ou à do Inferno. Tanto o anjo quanto o diabo podem acusar as almas, mas somente o anjo tem o poder da absolvição. Quanto ao estilo, pode-se dizer todo Auto é escrito em tom coloquial, ou seja, a linguagem aproxima-se a da fala, revelando assim a condição social das personagens, e todos o versos são Redondilhas maiores, sete sílabas poéticas.


Cenário

Um ancoradouro, no qual estão atracadas duas barcas. Todos os mortos, necessariamente, têm de passar por esta paragem, sendo julgados e condenados ou à barca da Glória ou à barca do Inferno. 


A peça tem seu início quando as almas chegam subitamente a um rio (ou braço de mar) que, forçosamente, todos os mortos terão de atravessar, não sem antes sofrerem um julgamento.
Ao que tudo indica, o cenário da peça era rudimentar, possivelmente um salão (quarto) e alguns poucos móveis e panos. A mímica tem lugar de destaque, servindo de marcação e de direcionamento da ação. 

Personagens

Diabo: condutor das almas ao Inferno, conhece muito bem cada um dos personagens que lhe cai às mãos; é zombeteiro, irônico e bom argumentador. É um juiz, que exibe às claras o lado mais recôndito dos personagens, e revelando o que cada um deles procura esconder.

Anjo: Comandante da barca do céu. Representante de Deus... 

Fidalgo: Com um manto e pajem (criado) que transporta uma cadeira de espaldas. Estes elementos simbolizam a opressão dos mais fortes, a tirania e a presunção do moço.
Onzeneiro: (Agiota) Simboliza o apego ao dinheiro, a ambição , a ganância e a usura.
Parvo: Um tolo, ingênuo. Representa a inocência e a ingenuidade. 
Sapateiro: Com avental e formas de sapateiro. Estes elementos simbolizam a exploração interesseira, da classe burguesa comercial.
Frade: Com uma Moça (Florença), uma espada, um escudo, um capacete e o seu hábito. Estes elementos representam a vida mundana do clero, e a dissolução dos seus costumes.
Alcoviteira: Com arcas de feitiços, armários de mentir, furtos alheios, jóias de seduzir, guarda-roupa de encobrir, casa movediça, estrado de cortiça, coxins e moças. Estes elementos representam a exploração interesseira dos outros, para seu próprio lucro e a sua atividade de alcoviteira ligada à prostituição.
Judeu: Com bode. Simboliza a rejeição à fé cristã, pois o bode é o símbolo do Judaísmo.
Corregedor e Procurador: Com processos, vara da Justiça e livros. Estes elementos simbolizam a magistratura.
Enforcado: Com a corda (com que fora enforcado) ao pescoço. Representa a sua vida terrena vil e corruptível.
Quatro Cavaleiros: Com a cruz de Cristo, que simboliza a fé dos cavaleiros pela religião católica.

Considerações da Equipe de Trabalho

Todos os personagens que têm como destino o inferno possuem algumas características comuns, chegam trazendo consigo objetos terrenos, representando seu apego à vida; por isso, tentam voltar. E os personagens a quem se oferece o céu são cristãos e puros. O mundo aqui ironizado pelo autor é maniqueísta: o bem e o mal; o bom e o ruim são metades de um mundo moral simplificado.
A sátira social é implacável e coloca em prática um lema, que é "rindo, corrigem-se os defeitos da sociedade". A obra tem, portanto, valor educativo muito forte. A sátira vicentina serve para nos mostrar, tocando nas feridas sociais de seu tempo, que havia um mundo melhor, em que todos eram melhores. Mas é um mundo perdido, infelizmente. Ou seja, a mensagem final, por trás dos risos, é um tanto pessimista.
Na peça, é clara a intenção do autor em expor de forma satírica e despojada os grandes vícios humanos. A forma encontrada para isso reside nos personagens, ou melhor, nas almas que se apresentam no porto em busca do transporte para o outro lado, dentro da visão católica e platônica de céu e inferno. 
No auto, o autor faz o Diabo (sujeito/protagonista) parecer-se com um vendedor, ou seja, ele conhece bem as pessoas e é um ótimo argumentador, e busca obter o maior número de objetos, ou seja, de almas. Ele age como zombeteiro e irônico em certos momentos da peça, exibindo o lado mais errado dos personagens e revelando o que cada um deles deseja esconder, seus vícios e suas fraquezas. Como competência, ele tem o poder de retrucar, argumentar e penetrar nas consciências humanas, e acaba por levar cada personagem ao ato de refletir sobre seus feitos, para que percebam que não foram bons em vida, destacando assim o Teocentrismo medieval. Interessante ressaltar também que o Diabo nunca força ninguém ao pecado, ele apenas trabalha com as atitudes das próprias pessoas. 

Bárbara Gusmão
Composição: N.Siqueira / E. Neves

Um amor assim delicado
Você pega e despreza
Não devia ter despertado
Ajoelha e não reza

Dessa coisa que mete medo
Pela sua grandeza
Não sou o único culpado
Disso eu tenho a certeza

Princesa, surpresa, você me arrasou
Serpente, nem sente que me envenenou
Senhora, e agora, me diga onde eu vou
Senhora, serpente, princesa

Um amor assim violento
Quando torna-se mágoa
É o avesso de um sentimento
Oceano sem água

Ondas, desejos de vingança
Nessa desnatureza
Batem forte sem esperança
Contra a tua dureza

Princesa, surpresa, você me arrasou
Serpente, nem sente que me envenenou
Senhora, e agora, me diga onde eu vou
Senhora, serpente, princesa

Um amor assim delicado
Nenhum homem daria
Talvez tenha sido pecado
Apostar na alegria

Você pensa que eu tenho tudo
E vazio me deixa
Mas Deus não quer que eu fique mudo
E eu te grito esta queixa

Princesa, surpresa, você me arrasou
Serpente, nem sente que me envenenou
Senhora, e agora, me diga onde eu vou
Amiga, me diga...

***

Em “Queixa” é possível observar a semelhança com a Cantiga de Amor do trovadorismo da Idade Média através de características como a vassalagem amorosa, o amor impossível e o sofrimento amoroso. São notáveis os sentimentos de amor, rejeição e veneração transmitidos pelo eu-lírico masculino ao expor seu sofrimento por não ser correspondido pela mulher amada que é vista como um ser inatingível.

Bárbara Gusmão


Santa Bárbara viveu e sofreu durante o reinado do imperador Maximiano (305-311). Seu pai, um pagão de nome Dióscoro era um homem rico e ilustre da cidade fenícia de Heliópolis; como ele ficou viúvo muito cedo, voltou toda a sua atenção em devoção a sua filha única. Bárbara tinha uma beleza tão extraordinária que seu pai decidiu criá-la afastada dos olhos de estranhos. Para isso ele construiu uma torre, na qual ela vivia, junto de seus tutores pagãos.
Do alto da torre, ela podia vislumbrar a imensidão da criação de Deus: durante o dia, ela via colinas cobertas de florestas, rios que cortavam a terra e campinas cobertas por flores de todas as cores do arco-íris; e, a noite, o impressionante espetáculo da harmonia e majestade dos céus estrelados. Logo a jovem donzela passou a se questionar sobre o Criador de um mundo tão esplêndido e harmonioso. Aos poucos elas foi se convencendo que os ídolos pagão eram criação das mãos humanas, e embora seu pai e tutores a ensinavam a adorá-los, os ídolos não se mostravam sábios ou divinos o suficiente para terem criado o mundo. O desejo de Bárbara de conhecer o Deus Verdadeiro consumia sua alma de tal maneira que ela decidiu devotar toda a as vida a isto, vivendo em castidade.
Mas a fama de sua beleza espalhou-se pela cidade, e surgiram muitos pretendentes à sua mão. E apesar das súplicas de seu pai, ela recusou, dizendo-lhe que sua persistência poderia separá-los para sempre, tendo um final trágico. Dióscoro, então, decidiu que o temperamento de sua filha havia sido afetado por sua vida reclusa – ele, então, permitiu que ela deixasse a torre, concedendo-lhe a liberdade de escolha de seus amigos e conhecidos. Foi assim que a donzela conheceu na cidade jovens cristãos, que lhe revelaram sobre os ensinamentos de Deus, a vida de Nosso Senhor, a Trindade e a Sabedoria Divina. Pela Providência Divina, após um certo tempo, um padre de Alexandria, disfarçado como mercador, chegou a Heliópolis, e posteriormente veio a batizar Bárbara.
Enquanto isso, um luxuoso quarto de banho estava sendo construído na casa de Dióscoro. Segundo suas ordens, os operários deveriam construir duas janelas na parede sul; mas Bárbara, aproveitando-se da ausência de seu pai, pediu-lhes para que fosse feita uma terceira janela, representando a Trindade. Sobre a entrada do quarto de banho Bárbara esculpiu em pedra uma cruz – segundo o hagiógrafo Simeão Metafrastes, certo tempo após a fonte que originalmente abastecia o quarto de banho ter secado, ela voltou a jorrar água com poderes curativos.
Quando Dióscoro retornou, expressando insatisfação com as mudanças em sua obra, sua filha lhe contou sobre seu conhecimento do Deus Triúno, sobre a salvação pelo Filho de Deus e da futilidade de adorar falsos ídolos.
Dióscoro imediatamente foi tomado pela fúria, tomando uma espada para matá-la; a jovem fugiu de seu pai, que partiu em sua perseguição; quando Santa Bárbara chegou a uma colina, nele se abriu uma caverna para escondê-la em seu interior. Após uma busca longa e sem resultados por sua filha, Dióscoro viu dois pastores em uma colina. Um deles lhe mostrou a caverna onde a Santa havia se escondido – quando a encontrou, Dióscoro lhe deu uma surra terrível, para depois mantê-la em cativeiro, em um jejum forçado. Vendo que não conseguia vencer a fé de Santa Bárbara, ele a levou para Marciano, o governador da cidade. Juntos, eles voltaram a surrá-la e chicoteá-la, salgando suas feridas. À noite, a Santa Donzela rezou com fé ao Senhor, e Ele lhe apareceu em pessoa, curando seus ferimentos. Ela, então, sofreu tormentos mais cruéis ainda.
Entre a multidão que se encontrava próximo ao local da tortura, havia uma cristã moradora de Heliópolis, de nome Juliana, e seu coração havia se enchido de compaixão pelo martírio voluntário da bela e ilustre donzela.
Também desejando se sacrificar por Cristo e sua fé, e começou a denunciar os torturadores em voz alta, sendo presa logo em seguida. Ambas a Santas Mártires foram torturadas por muito tempo; após serem flageladas, foram levadas pelas ruas da cidade, em meio à zombaria e escárnio da multidão.
Após a humilhação, as fiéis seguidoras de Cristo, Santas Bárbara e Juliana foram decapitadas. O próprio Dióscoro executou Santa Bárbara. A fúria de Deus não tardou a punir seus torturadores e executores: logo em seguida, Dióscoro e Marciano foram fulminados por raios e relâmpago.
No século VI, as relíquias da Santa Mártir Bárbara foram transladados para Constantinopla. No século XII, a filha do Imperador Bizantino Aleixo Comenes, a princesa Bárbara, após contrair matrimônio com o príncipe russo Miguel Izyaslavich as transladou para Kiev, capital da atual Ucrânia. Hoje suas santas relíquias descansam na Catedral de São Valdomiro em Kiev.

Bárbara Gusmão





São Jorge (275 - 23 de abril de 303) foi, de acordo com a tradição, um padre e soldado romano no exército do imperador Diocleciano, venerado como mártir cristão. Na hagiografia, São Jorge é um dos santos mais venerados no catolicismo (tanto na Igreja Católica Romana e na Igreja Ortodoxa como também na Comunhão Anglicana). É imortalizado no conto em que mata o dragão e também é um dos Catorze santos auxiliares. Considerado como um dos mais proeminentes santos militares, sua memória é celebrada dia 23 de abril como também em 3 de novembro, quando, por toda parte, se comemora a reconstrução da igreja dedicada a ele na Lida (Israel), onde se encontram suas relíquias, erguida a mando do imperador romano Constantino I.
Jorge teria nascido na antiga Capadócia, região do centro da Anatólia que, atualmente, faz parte da República da Turquia. Ainda criança, mudou-se para a Palestina com sua mãe após seu pai morrer em batalha. Sua mãe, ela própria originária da Palestina, Lida, possuía muitos bens e o educou com esmero. Ao atingir a adolescência, Jorge entrou para a carreira das armas, por ser a que mais satisfazia à sua natural índole combativa. Logo foi promovido a capitão do exército romano devido a sua dedicação e habilidade — qualidades que levaram o imperador a lhe conferir o título de conde da Capadócia. Aos 23 anos passou a residir na corte imperial em Nicomédia, exercendo a função de Tribuno Militar.
Nesse tempo sua mãe faleceu e ele, tomando grande parte nas riquezas que lhe ficaram, foi-se para a corte do Imperador. Jorge, ao ver que urdia tanta crueldade contra os cristãos, parecendo-lhe ser aquele tempo conveniente para alcançar a verdadeira salvação, distribuiu com diligência toda a riqueza que tinha aos pobres.
O imperador Diocleciano tinha planos de matar todos os cristãos e no dia marcado para o senado confirmar o decreto imperial, Jorge levantou-se no meio da reunião declarando-se espantado com aquela decisão, e afirmou que os romanos deviam se converter ao cristianismo.
Todos ficaram atônitos ao ouvirem estas palavras de um membro da suprema corte romana, defendendo com grande ousadia a fé em Jesus Cristo. Indagado por um cônsul sobre a origem dessa ousadia, Jorge prontamente respondeu-lhe que era por causa da Verdade. O tal cônsul, não satisfeito, quis saber: "O que é a Verdade?". Jorge respondeu-lhe: "A Verdade é meu Senhor Jesus Cristo, a quem vós perseguis, e eu sou servo de meu redentor Jesus Cristo, e Nele confiando me pus no meio de vós para dar testemunho da Verdade."
Como Jorge mantinha-se fiel ao cristianismo, o imperador tentou fazê-lo desistir da fé torturando-o de vários modos. E, após cada tortura, era levado perante o imperador, que lhe perguntava se renegaria a Jesus para adorar os ídolos. Todavia, Jorge reafirmava sua fé, tendo seu martírio aos poucos ganhado notoriedade e muitos romanos tomado as dores daquele jovem soldado, inclusive a mulher do imperador, que se converteu ao cristianismo. Finalmente, Diocleciano, não tendo êxito, mandou degolá-lo no dia 23 de abril de 303, em Nicomédia (Ásia Menor).
Os restos mortais de São Jorge foram transportados para Lida (Antiga Dióspolis), cidade em que crescera com sua mãe. Lá ele foi sepultado, e mais tarde o imperador cristão Constantino mandou erguer suntuoso oratório aberto aos fiéis, para que a devoção ao santo fosse espalhada por todo o Oriente.

Bárbara Gusmão

“Motivo” de Cecília Meireles

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.


Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.


Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.


Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

Tema: Transitoriedade em tudo – na vida e nas coisas.

Tese: O “eu” lírico se refere à subjetividade, intimidade e descrição dos sentimentos; percebemos com facilidade as características na poesia de Cecília como a naturalidade com que coloca em palavras a passagem do tempo, a transitoriedade da vida e dos objetos, utilizando de uma linguagem sensorial, intuitiva e o tom melancólico com que descreve um conflito interior. “Motivo” pode denotar a motivação do “eu” lírico para continuar vivendo, contentando-se em ser apenas poeta, apesar de não ser exatamente feliz ou triste; dando importância ao presente, ao agora e ao que edificamos na terra, desvalorizando as coisas passageiras – porque não devemos ficar presos a elas, já que, assim como a nossa existência, elas passam.

Bárbara Gusmão

A Comédia dos Erros - William Shakespeare.

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Em Éfeso, um comerciante de Siracusa, chamado Egeu, é condenado à morte por ter cruzado a fronteira entre as duas cidades rivais. Enquanto é conduzido para sua execução, conta ao duque de Éfeso, Solino, a sua história, que veio a Siracusa a procura da esposa e dos filhos e servos gêmeos, que foram separados há vinte e cinco anos por causa de um naufrágio. Dois gêmeos – um filho e um servo – que cresceram com Egeu, estão viajando também em busca da outra metade da família. O duque, então, concede a ele um dia mais para conseguir mil marcos, para pagar o seu resgate.

Porém, sem que Egeu tome conhecimento, Antífolo de Siracusa e Drômio, seu escravo, também se encontram na cidade – onde moram os seus gêmeos.

A partir disso começa uma sucessão de mal-entendidos. Adriana, esposa de Antífolo de Éfeso, confunde-o com o de Siracusa, levando-o para casa e Drômio fica como protetor na entrada da casa. Assim, quando Antífolo de Éfeso – com seu Drômio – volta, é impedido de entrar em sua própria casa. Entretanto, Antífolo de Siracusa se apaixona por Luciana, irmã de Adriana, que estranha e fica confusa com o comportamento do suposto cunhado.

Ainda é aumentada a confusão quando uma corrente de ouro que deveria ser dada ao Antífolo de Éfeso é dada ao de Siracusa. Antífolo de Éfeso se recusa a pagar por uma corrente que não recebeu e é preso. A esposa acredita, assim, que ele está louco e busca pelo professor Pinch – um exorcista. Porém, o Antífolo de Siracusa e seu Drômio decidem fugir da cidade, que pensaram ser enfeitiçada, mas Adriana o ameaça e eles procuram refúgio em uma abadia.

Adriana pede ao duque que interfira, tirando seu suposto marido da abadia. O seu verdadeiro Antífolo, porém, escapa e procura pelo duque. A confusão começa a se desfazer, então, e é resolvida por Emilia, que traz os dois gêmeos para fora da abadia revelando ser a esposa desaparecida de Egeu.

O Antílofo de Éfeso e Adriana se reconciliam. Egeu é perdoado pelo duque Solino e volta para sua esposa. O Antífolo de Siracusa começa a tentar algo com Luciana e os Drômios felizes pelo reencontro.

Bárbara Gusmão
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Aplicando a definição de Aristóteles à Electra, de Eurípedes, temos a traição de Clitemnestra e o assassinato de Agamêmnon retratando a paixão humana – que leva os seres humanos a portarem-se de violência e irracionalidade, ignorando as leis humanas ou divinas que organizavam a vida.

Os conflitos resultantes da paixão e tais atos são retratados pelas condições em que se encontravam Electra (que fora obrigada pelos assassinos de seu pai a se casar com um camponês, estando em situação humilhante e pobremente vestida, lamentando a morte de Agamêmnon e sentindo-se abandonada pelos deuses) e Orestes (que assiste às lamentações de Electra escondido e logo se passando por um amigo dele próprio, ela conta-lhe a situação atual e recebe a hospitalidade do camponês, marido da irmã) e pela vingança planejada por eles, a morte de Egisto e de Clitemnestra.

Apresenta, então, personagens nobres e heroicas como deuses e semideuses (apesar de possuírem menos relevância, diminuição qualitativa das ações divinas nas peças de Eurípedes) representados pelos Dióscuros e Pólux, que ordenam a Orestes casar Electra com Pílades e deixar Argos, avisando-o que será perseguido, devendo submeter-se ao tribunal em Atenas e que Apolo considera-se culpado. Orestes e Electra se despedem.